O Fórum de Gestão Hospitalar, que aconteceu na feira SAHE – South America Health Exhibition, trouxe como tema central “A Gestão de hospitais em tempos de transformação”.
As três mesas discutiram o ambiente atual do processo de atenção à saúde e os riscos e oportunidades que se apresentam. O modelo das três mesas foi semelhante – sempre precedido de uma explanação com cerca de quarenta minutos e em seguida de um talk-show em que um grupo de experts fizeram apresentações sintéticas e, em seguida, desenvolveu o debate com a plateia.
Tanto as apresentações como os debates foram bastante enriquecedores e contribuíram para uma melhor compreensão do momento por que passa o país e a questão da assistência à saúde, tanto no setor público como no privado. Os participantes tiveram não somente uma melhor compreensão do momento atual, mas também puderam se posicionar em relação ao futuro.
A primeira mesa apresentou o conjunto de fatores que conformam o ambiente do processo de produção de serviços de saúde. Foi uma abordagem ampla e que colocou de maneira direta as grandes questões a serem enfrentadas no setor saúde.
A abordagem realizada pelo expositor, o secretário da Saúde do Estado de São Paulo, José Henrique Germann, refletiu sobre as três revoluções em curso – a demográfica (aumento da expectativa de vida, redução da natalidade e urbanização), a epidemiológica (manutenção da velha agenda das enfermidades infecto contagiosas, mas com um crescimento exponencial da nova agenda das enfermidades crônico-degenerativas e da violência) e a tecnológica.
Debateu-se muito o tema do financiamento da saúde e a conclusão óbvia da falta de recursos na saúde, tanto no público quanto no privado. A falta de recursos financeiros é um problema que terá que ser resolvido ao longo dos próximos anos, em particular devido à crise econômica que o país atravessa.
Também há a necessidade de discutir o modelo de incorporação tecnológica e a elevada demanda da sociedade por novas terapias com um crescimento muito violento do processo de judicialização. Foram identificados esses problemas, contudo não existiu muitas propostas de solução.
Além disso, foi pontuada a necessidade de mudar o modelo de remuneração, hoje baseado no pagamento por serviços prestados em que, no caso privado, os hospitais ficam com o risco e as operadoras com o valor agregado. Também se abordou o tema da gestão e da necessidade de modernizá-la tanto na esfera administrativa como na assistencial, procurando focar no paciente o modelo de atenção.
Destacou-se o grande esforço ainda necessário para aumentar a qualidade e segurança do processo assistencial. Existe nessa transição uma oportunidade de criação de soluções que usam a escala econômica como instrumento de aumento da eficiência de todo o processo.
Também se discutiu a importância de investir nos processos de valorização dos colaboradores e introduzir as questões de ensino e pesquisa nos hospitais como instrumento de geração de valor e de criar um ambiente de continua inovação nas organizações.
Na segunda mesa voltada para revolução que está ocorrendo no campo da logística, não somente determinada pelo aparecimento de muitas novas tecnologias a serem introduzidas no processo de atenção, como também de novas ferramentas de software e de automação com robotização de parte das operações de distribuição de materiais e medicamentos que, além de aumentarem a eficiência dos processos, têm também dado uma importante contribuição na geração de ambientes mais seguros para a assistência à saúde.
Aqui também se cotejou o que está ocorrendo na indústria com o estabelecimento do modelo de gestão 4.0 e o que se observa no setor saúde. Apesar de que, em geral, essas inovações sempre alcançam o setor saúde posteriormente à sua introdução na indústria, tem-se observado que as distâncias têm diminuído. Uma das razões para isso é a renovação que vem ocorrendo na oferta de novas e mais dinâmicas soluções na área de softwares de gestão, apesar de ainda existirem muitos desafios a serem vencidos. Certamente, apesar da aridez do assunto, foi instigante tomar contato com a multiplicidade de soluções que estão aflorando e que poderão significar processos mais enxutos e efetivos em um futuro muito próximo.
Finalmente, na terceira mesa discutiu-se a questão da assistência à saúde e da jornada do paciente. E o dia foi encerrado com muitas informações relevantes para o processo de atenção propriamente dito. Discutiu-se a questão da humanização do atendimento, da importância do acolhimento e, portanto, de buscar colocar o sistema em consonância com a demanda do paciente. Lógico que as necessidades de atenção não podem ser subjugadas pelas demandas, mas estas têm que ser entendidas e atendidas. Aí devem ser utilizadas ferramentas, como a de classificação de riscos como o protocolo de Manchester nas unidades de emergência. Assim, todos são acolhidos, respeitanto-se a necessidade dos quadros mais urgentes.
Partiu-se para a discussão do conceito de clínica ampliada, do matriciamento da atenção, dos cuidados inovadores para condições crônicas e da importância de estimular a autonomia dos pacientes para que estes ocupem um papel relevante na construção de seu projeto terapêutico. E nesse momento, discutiu-se a construção do projeto terapêutico singular que suscitou muitos debates. O dia terminou muito rico com a discussão da experiência do paciente.
*artigo escrito por Gonzalo Vecina Neto, professor assistente da FSP/USP e docente do mestrado profissional da EAESP/FGV, presidente da comissão científica do Congresso de Gestão Hospitalar.
Comitê científico do Fórum de Gestão Hospitalar
O comitê científico do Fórum de Gestão Hospitalar foi presidido por Gonzalo Vecina Neto, professor assistente da FSP/USP e docente do mestrado profissional da EAESP/FGV. Também participaram do board Lorena Porto, do Hospital Anchieta; Roberto Sá Menezes, da Santa Casa da Bahia; Mario Vrandecic, do Biocor Instituto; Valdir Ventura, do Grupo São Cristóvão Saúde; Walter Cintra, da EAESP/FGV; Joyce Chaccon, do ICESP; Didier Roberto torres Ribas, dos hospitais de Itapecirica da Serra e de Cotia pela OSs Seconci; Antonio Onofre de Lira, da Seguros Unimed; e Rodrigo Macedo, da United Health Group.